sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Zanzibar

Fausto Nilo é um dos maiores letristas da MPB, se não o maior. Existem mais de 400 canções com letras dele. Cearense de Quixeramobim, conterrâneo de Antonio Conselheiro, arquiteto de formação (é o grande interventor – no melhor sentido – da paisagem de Fortaleza, com sua arte). Vou citar só um punhado de seus grandes sucessos: “tudo com você”, com Lulu Santos; “eu também quero beijar” e “mil e uma noites de amor” com Pepeu Gomes; “dona da minha cabeça” , “chorando e cantando – quando fevereiro chegar, saudade já não mata a gente... feita para esperar Luan, filho de Elba, que veio ao mundo em um fevereiro, como eu”, “você se lembra - entre as estrelas do meu drama/você já foi meu anjo azul/chegamos num final feliz/ na tela prateada da ilusão...” e "letras negras", com Geraldo Azevedo; “Deslizes”, “Retrovisor – onde a máquina me leva não há nada/horizontes e fronteiras são iguais/se agora tudo que mais quero já ficou pra trás...”, e uma porrada de músicas interpretadas por Fagner, seu maior interprete e parceiro; os maiores sucessos de Simone: “pão e poesia”, “pequenino cão”, “você é real” e “um desejo só não basta”; “meninas do Brasil”, “coisa acesa” , “santa fé – roque santeiro” e “bloco do prazer”, dentre outras, com Moraes Moreira.

Mas vamos nos reportar apenas a "Zanzibar" feita em parceria com Armandinho, da banda A Cor do Som, das melhores bandas que a Bahia já deu. “No azul de Jezebel/No céu de Calcutá/Feliz constelação/Reluz no corpo dela/Ai tricolor colar/Az de maracatu/No azul de Zanzibar/Ali meu coração/Zumbiu no gozo dela/Ai mina aperta a minha mão/Alá meu "only you"/No azul da estrela...”

Zanzibar teria sido composta no Rio de Janeiro, no início dos anos oitenta. Ainda moravam por lá alguns remanescentes dos “novos baianos” como Moraes Moreira, Luiz Galvão e Paulinha Boca de Cantor. Armandinho, Moraes Moreira e Fausto Nilo, produziram algumas composições entre o fim da década de 70 e o início dos anos 80, no Rio de Janeiro.

Zanzibar estava quase pronta mas Fausto, um perfeccionista, encrencou que falta uma palavra para dar sentido à letra. Ele costuma dizer que uma palavra pode botar uma música inteira a perder, a ser fadada a nunca fazer sucesso. Pois foi assim com “Zanzibar”. Saiu do estúdio invocad, tentando inserir a palavra que faltava, na letra que encaixasse na melodia de Armandinho. Já era noite, caminhando pelo Jardim Botânico, bairro da zona sul do Rio, pela avenida onde fica a sede da Rede Globo. Ouviu saído de um boteco, num dos becos de uma esquina da avenida, vinda da voz de um bêbado, a palavra que lhe faltava na composição. Era um simples “aliás”, mas Fausto lembra que não poderia ter sido um “aliás” qualquer, tinha que ter sido um aliás com a sonoridade com que o bêbado lhe soprara “Aliás, bazar da coisa azul/Meu "only you"/É muito mais que o azul de Zanzibar
Paracuru/O azul da estrela/O azul da estrela.....”

O “aliás”, palavra pouco comum para letras de música (aliás, tem uma música de Djavan que se chama ‘Aliás’, por sinal uma bela canção, só conheço essa outra letra com essa palavra), provocou a inflexão que a canção precisava, segundo ele, dando uma nítida separação entre os trechos anterior e posterior à palavra na canção, da forma como ele deseja que ocorresse. Coisas de Gênio. Sem explicações.

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