Gomes em 18-01-2006
Adriane Galisteu era apenas uma dessas meninas bonitas que seguram o guarda-sol para o piloto ficar no bem-bom nos GP da Fórmula 1. Pois ela foi vista por um dos olheiros da Playboy em Interlagos, durante o GP do Brasil, em março de 1993, e por módicos 5 mil dólares posou para um ensaio. Nua, é claro.
No mês em que o ensaio seria publicado sem nenhum alarde, eis que Ayrton Senna telefona para mim, que dirigia a revista à época. E pergunta se podia me pedir um favor.
O Brasil vivia um baixo-astral sem tamanho, logo após o impeachment de Fernando Collor, e das poucas alegrias que nós, brasileiros, tínhamos eram as vitórias de Senna, aos domingos pela manhã, com direito a uma volta com a bandeira nacional.
E eu respondi a ele: “Ayrton, você, o Pelé, Chico Buarque de Holanda e dom Paulo Evaristo Arns [que era o cardeal de São Paulo] não pedem favor neste país: vocês mandam. O que você quer que eu faça?” E ele, muito tímido, falando de Sintra, em Portugal, da casa do empresário Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, me disse que estava namorando uma moça chamada Adriane e que ela tinha posado para Playboy, para seu desgosto. “Será que dá para não publicar o ensaio?”, perguntou.
“Já deu”, respondi. “Você quer que eu mande as fotos aí para você ou para seu escritório em São Paulo?” Não me lembro da resposta dele, apenas que chamei a pessoa responsável pela edição das fotos, pedi que me trouxessem todas, avisei que o ensaio não sairia e mandei as fotos para ele, numa boa, sem dúvida de que estava fazendo a coisa certa. Sorte de la Galisteu.
Dois anos depois, ela estava na capa de Playboy, em agosto de 1995, com um cachê que, suponho (eu saí da revista em 1994 – e nem se soubesse exatamente o valor eu contaria), tenha sido umas sessenta vezes maior que o anterior.
Tempos depois do sucesso em Playboy, vazou, pela própria modelo, a história do pedido de Senna, embora de maneira incorreta. Adriane contava que o namorado ciumento havia comprado as fotos de volta, o que seria até justo, pois a revista havia pagado por elas. Mas, de fato, nem isso aconteceu. Senna propôs mesmo repor o valor gasto, e eu fiquei, erradamente, sem jeito de aceitar. Acabei sendo generoso com um dinheiro que não era meu, era da editora Abril.
Mas, afinal, o que eram 5 mil dólares diante do que Adriane recebeu depois? Esse, sim, foi um prejuízo histórico. Inenarrável. Agora, enfim, narrado, com detalhes, por escrito.
Tenho certeza de que, depois de ler estas poucas linhas, à guisa de memórias a direção da Abril dará mais uma vez graças a Deus por ter se livrado de mim, jornalista comum, negociante para lá de desastrado! E de que Adriane Galisteu mais uma vez sorrirá, agradecida.
De nada.
(Extraído do livro "Meninos, eu vi", de Juca Kfouri, editoras DBA/Lance!)
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