sábado, 26 de dezembro de 2009

Drão

GOMES - 10-12-2007:

“Há canções de maturação, que começam por uma pílula de criação – por uma gota que colore a água no jarro e vai decantando; um dia você pega aquele precipitado lá no fundo e trabalha nele. É um modo, um jeito de compor. Há canções que demandam esforço concentrado por considerável período de tempo de realização intensiva. Drão está entre essas”.

É assim que Gilberto Gil começa uma narrativa de explicação sobre a dificuldade de compor e a respeito de como concebeu a música Drão, uma das mais belas obras da música brasileira.

A criação de Drão teria apresentado para ele elevado grau de dificuldade porque lidava com um assunto denso – o amor e o desamor, o rompimento, o final de um casamento. Foi uma canção feita para Sandra (Sandrão, Drão) e para si próprio.

“Eu me lembro de estar sentado no chão, anotando frases no caderno, com o violão do lado, e de repente sentir o sufoco do coágulo da criação, e ao mesmo tempo a iminência da explosão da via criativa, e não agüentar, saindo dali e indo para o quarto me deitar e deixar, então, aquele coágulo se dissolver, criando filetes que se encaminhavam pra aqui e pra ali... Aí o cérebro e o coração intumesciam, algumas idéias fluíam, e dois, três ou quatro versos saíam. Satisfeito eu fechava o caderno e ia cuidar da vida. Saia, passava o dia fazendo outras coisas, chegava de noite e eu retornava; ficava a madrugada toda de novo... ...fazer música é uma loucura, quando você se coloca tantos problemas”

No final da sua última estrofe, a música traz uma das construções típica do profundo senso criativo de Gil: “....Quem poderá fazer/Aquele amor morrer/Se o amor é como um grão!/Morrenasce, trigo/Vivemorre, pão.”

Aqui a canção é executada por Caetano Veloso

Nenhum comentário: