sábado, 26 de dezembro de 2009

Com dólar fraco, EUA "exportam" inflação, afirmam economistas

GOMES - 20-07-2008:

Enxurrada de moeda americana fez emergentes comprarem mais commodities

TONI SCIARRETTA
Da reportagem local da Folha de S. Paulo

Os países ricos responsabilizam os emergentes -em particular a China, que coloca 200 milhões de pessoas ao ano no mercado consumidor- pela escalada no preços dos alimentos e de commodities em geral. O consumo chinês, no caso, seria o grande "exportador" de inflação ao restante do mundo.

Para alguns economistas, como Jeffrey Frankel, especialista em commodities da Universidade Harvard, a China só está repatriando agora uma inflação exportada pelo menos desde os anos 80 pelos EUA, por meio da desvalorização do dólar -que reequilibra seu déficit comercial- e pela política de juros baixos -que controla o déficit fiscal, agravado nos anos George W. Bush pela guerra no Afeganistão e depois no Iraque.

"Os EUA exportaram inflação para o restante do mundo, levando os preços em dólares das commodities a decolarem. Há um ano, as expectativas de crescimento do mundo, incluindo na China, se desaceleram, mas os preços do petróleo e de outras commodities subiram ainda mais. A demanda não explica sozinha os aumentos de preços", disse Frankel.

Exportando inflação
Pela teoria monetarista, os governos e os seus Bancos Centrais, quando querem controlar a inflação, costumam subir os juros e retirar dinheiro de circulação por meio da colocação de títulos de sua dívida. O custo é aumentar o endividamento.
A equação só não é totalmente verdadeira para os EUA, donos da máquina que imprime dólares, aceitos em todo o mundo. Ante a necessidade de reduzir a liquidez no país, em vez de subir juros e emitir títulos, os EUA podem liberar a importação. Com isso, conseguem ajustar a oferta do mercado com a demanda e ainda mandam dólares para o exterior, retirando dinheiro de circulação. À medida que os EUA ejetam moeda para fora, também reduzem a liquidez interna. Você ajusta não só o lado da oferta como cria a redução da demanda. Essa prática do governo americano é o que chamamos de "exportar inflação". A inflação deles. Qual o problema que ele cria? Aumenta a liquidez de dólar nos mercados mundiais", disse o economista Otto Nogami, do Ibmec-SP.

Para o ex-ministro Delfim Netto, esse aumento de dólares nos emergentes, resultado do chamado duplo déficit americano -comercial e fiscal-, explica parte da inflação atual.

"Os BCs estão numa situação curiosa. Eles causaram uma parte dessa confusão porque mantiveram as taxas de juros muito baixas, permitiram patifaria no sistema financeiro e aumentaram a liquidez de maneira assustadora. Na verdade, eles financiaram essa elevação de preços", disse.

Desvalorização
Delfim lembra que o dólar perdeu 40% de seu poder de compra em relação ao euro só nos últimos quatro anos, e as commodities assumiram um papel de "hedge" [proteção] contra essa desvalorização.
"O maior efeito dos EUA sobre essa elevação dos preços é a desvalorização do dólar. Ela deve explicar uns 40% do aumento do preço dos alimentos. O árabe quer vender o petróleo com correção monetária. Ele quer que o barril de petróleo compre a mesma coisa que comprava antes em dólares. Como o dólar está caindo, eles têm de subir o preço. É tão simples quanto isso", disse.

Para Italo Lombardi, economista da consultoria americana RGE Monitor, a discussão sobre quem exporta inflação para quem perdeu sua relevância na atualidade. Ele afirma que não há consenso se o petróleo sobe porque o dólar se desvaloriza ou se acontece o contrário.

"Esse assunto vem e volta com bastante freqüência aqui nos EUA. Muita gente apostava na recuperação do dólar, pelo menos, até o último discurso do Ben Bernanke [presidente do Fed]. O Fed deu indicações de que não deve elevar juros, o que enfraquece o dólar. E tinha motivos para o dólar voltar a subir, como um crescimento maior nos EUA do que na Europa."

"Como ajustar? Com juro maior também nos EUA. A taxa maior faz com que o excedente de dólares flua novamente em direção aos EUA. Isso aumenta a liquidez do mercado americano", afirma Nogami.

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